domingo, 4 de janeiro de 2009

















A gripe e o feijão


Antunes Ferreira
Assim, pé ante pé, já estamos no quinto dia do primeiro mês do ano de 2009. Isto de calendários tem que se lhe diga. Mal um homem se precate, é virar a folha. Ou riscar o domingo, que - habitualmente - antecede a segunda-feira. De resto, esta última bem podia ser abolida, sabe-se lá, por decreto não, mas quiçá por lei da Assembleia da República, com a qual o PR se envolveu em questão embrulhada.

A famigerada segunda é a que se segue ao fim-de-semana. E podia muito bem acontecer, aprovada que fosse a proposta por maioria quase absoluta em São Bento - como se fora norma estatutário-autonómica dos Açores – que até os deputados da Nação se debruçassem sobre a terça. Não seria o caso, mas sinto que haveria muito povo que adoraria ver a jornada semanal de trabalho a começar na quarta.

Seria, também, uma achega preciosa para a produtividade nacional. Quando tanto se fala nela pela sua diminuta estatura (há até quem refira que é, sim, uma mini, piadistas…) os três dias laborais teriam um efeito interessante e sugestivo, no mínimo. O desemprego, que se antevê que aumente face à crise exotérica que se vai desenrolando, poderia diminuir, quiçá. Não sei muito bem como nem porquê, mas a esperança é a última coisa a morrer, todos o sabemos.

Abandonada a poole position, Janeiro prossegue sem devaneios. Com algum sobressalto, de quando em vez, mas que seria da sociedade se fosse monocolor? Que seria do azul se tudo fosse amarelo? Tal como era costume referir nas «notas oficiosas» do tempo da outra senhora, «o País está calmo, reina a ordem, e o progresso prossegue sem desfalecimentos».

Agora, a calma, a ordem e o progresso (Cavaco, antes das lições de dicção dadas pela Glória Matos, dizia pogresso, mas passou-lhe) têm de ser encarados por outro prisma. Não são exactamente o que eram. Alguns dizem que essas três componentes nem sequer subsistem, quanto mais dizer-se que existem. Mas, de mal agradecidos não reza a História.

Nestes cinco dias, quem reina é a gripe. Não é coisa que preocupe o cidadão eleitor, que já mira, desconfiado, as três idas às urnas no 2009 em que sobrevivemos. Isso sim, isso é motivo de inquirições e, mesmo, de interrogações. Em síntese: por quais deitar o voto? O leque é o habitual, as escolhas é que são tramadas. O campo de candidatos, de acordo com bastantes vozes, não é pobre – é paupérrimo. E o desuso do cartão de eleitor vai-se tornando prática que se avoluma – o que é péssimo. Stá tudo mudado.

Até a gripe, ainda que endémica, já não é o que foi. É certo que as idas às Urgências foram muitas e que motivaram engarrafamentos de dimensões apreciáveis. Aparentemente, foi tudo controlado e não houve motivo para pânicos. O recurso ao clássico abafe-se, abife-se e avinhe-se não terá sido de todo posto de parte, mas os antigripais embalados estão muitíssimo mais na moda. Houve e ainda há o reinado da gripe; há, também, o dos genéricos.

Nos pré-históricos tempos da minha juventude, era a gripe asiática. Uma festa. Escolas encerradas, serviços públicos a meia haste, transportes colectivos a conta-gotas. Eu, que a ela escapei (não sei como, mas escapei) gozava, como se dizia então, à brava. No meu bairro, o Restelo, visitava os meus amigos e colegas acamadíssimos, atafulhados de cobertores, sustentando-se a aspirinas e chá de limão com mel. Não esquecendo as papas de linhaça. Cuidado, menino, com o perigo do contágio, diziam-me. E cá o rapaz, ralado, como o Vasco Santana no Pátio das Cantigas.

Na verdade, as águas correm sob as pontes e não voltam atrás. Porém, são diferentes. E, ocorre-me de imediato, o comentário de um soldado cozinheiro preto em Angola. Meu arferes, istá tudo mudado. Antes, um home comia os feijão e depois fazia pum, pum. Hoji, só faz pfff, pfff.

Também publicada em http://www.aminhatravessadoferreira.blogspot.com/ e http://www.cuaoleu.blogspot.com/

8 comentários:

Deusa Odoyá disse...

olá meu estimado amigo!
Adorei sua crônica.
Obrigado por suas palavras tão carinhosas em meu cantinho.
Estou voltando aos poucos, por recomendações médicas.
Uma semana de muita paz e luz.
Beijos da sua amiga do Brasil.

Regina Coeli.
Fique na doce paz.

Táxi Pluvioso disse...

Eh pah, isto andou bastante, vou levar algum tempo a ler tudo. Aqui ficar um exemplo de arte barata com a queda dos preços dos alimentos.

Unknown disse...

Que barato, voltarei mais vezes...Um beijo.

Luana

Táxi Pluvioso disse...

O acontecimento antes de acontecer.

' Rôh disse...

Texto mtu bem escrito, parabéns. XD
Vou voltar, ok?

Abraço, Roh

' Rôh disse...

Ok, meu querido.
Li tudinho que vc colocou lá, rs
Ta linkado!!!!


Abração.

dhlondhenk disse...

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Aclim disse...

Não sou puxa saco. Leio por cima seus escritos. É chato. Debochado.

Abçs