
…ao fundo do túnel
Antunes Ferreira
É sabido, consabido e, até, multissabido (deixem-me pleonasmear ou neologismar…) que é universal a asserção «uma luz ao fundo do túnel». Em Portugal, Mário Soares ficou ligado a ela quando tentou alimentar as esperanças dos Portugueses num futuro melhor, aquando dos momentos realmente muito difíceis que se viviam nos domínios financeiro e económico, quando o FMI era um examinador impiedoso face ao aluno cábula, desleixado e mal comportado que o nosso País era. Ficou gravado nas memórias de quase todos nós um nome: Tereza Ter-Minasian. E por aqui me fico.
Políticos, dirigentes, empresários, religiosos (são apenas uns parcos exemplos da panóplia universalizada) todos eles usam a expressão e, frequentemente, dela abusam. Serve para tudo, mas principalmente para anunciar caminhos perfeitos ou quase que contentem os cidadãos quanto ao futuro.
É utilizada, tão repetidamente e por tanta gente, que hoje é uma prostituta vulgar. Podia ser uma call-girl eufemísticamente rotulada. Mas, não. É uma… mulher de vida fácil, a que normalmente chamamos uma meretriz, sem receios puritano-linguísticos, uma puta. Pobre afirmação. Na sua raiz uma intenção esplêndida; no dia-a-dia, uma acusação cáustica: rameira.
A que vem este arrazoado? O destemperado propósito (?) do incêndio ocorrido na quinta-feira no Túnel sob a Mancha. Desde a sua inauguração em 1994, aconteceram nele apenas dois desastres complicados, qualquer deles incêndios, As pessoas que o utilizam podem, naturalmente, comentar, olá, que boa trampa nos saiu esta prenda. Dois acidentes graves em 14 anos, para além de outros, menores, é obra, é preocupante, é o diabo.
Para os proprietários do segundo maior túnel do Mundo – registe-se, a título informativo e rememorativo que o primeiro é japonês – o comentário é bem outro. Em 14 anos de existência, só se verificaram dois eventos de proporções grandes e, felizmente, sem vítimas mortais em qualquer deles. Não é o caso do copo quase vazio para uns e quase cheio para outros: nele a água está a metade do recipiente. Quem não o está são os que emitem as opiniões.
O incêndio, de acordo com fontes oficiais, foi extinto umas quantas horas depois de ter deflagrado. Ele deveu-se a um camião cisterna que transportava materiais inflamáveis e que terá tombado. O fogo que aconteceu espalhou-se a outras cerca de 30 viaturas. Seis camionistas receberam cuidados hospitalares devido à inalação de fumo.
A Lusa e a RTP conseguiram contactar um condutor de um camião português, Eric Costa que informou que outros portugueses tinham sido também «encurralados» no Eurotúnel por via do acidente. As diligências para que se tivessem obtido tais resultados ficam com os seus autores, demonstrando, uma vez mais, que quando nos metemos de cabeça nas coisas mais complexas, conseguimos atingir os nossos objectivos. Somos, regra geral e como o tenho escrito, mauzinhos. Mas, por vezes…
Neste novo caso da passagem subterrânea do canal da Mancha bem se pode dizer que, para os que ficaram apanhados na ratoeira, foi muito difícil encontrar a famosa luz ao fundo do túnel. As conclusões do imbróglio seguirão dentro dos momentos que sejam considerados necessários. Há, porém, uma que já se pode apontar. Nele não dever haver acusações contra José Sócrates ou contra o seu Governo. Desta – safaram-se. O que é cada vez mais raro. Já quanto a Carlos Queiroz…
(Também publicado em http://www.travessadoferreira.blogspot.com/, em http://www.sorumbatico.blogspot.com/ e em mais uns quantos. Um dia destes, lá vem a graçola: máquina de encher chouriços...)